sexta-feira, 5 de março de 2010

(in)disfarçável


Eu canto e gemo em cima de ti

Se por acaso mudas a posição

Cobrindo-me com o manto do seu corpo

Não me transfiguro

Canto e gemo

Sem disfarçar o orgasmo.

LEITURA

Deixe-me ler a escritura dos seus pés

Enquanto os tenho nas mãos

Preciso conhecer suas histórias

Suas andanças

E seu real paradeiro...

Destino

A água cai sobre a pedra

Fura-a pois persiste

Segue seu próprio caminho

Escorrendo para o mar.

quarta-feira, 3 de março de 2010

Testamento



Que falem de mim

Que sejam inconvenientes

Trago na boca

Palavras afiadas

Que farão minha defesa

Organizadas em poemas

Que isto baste

Sou poeta...

Em sentido lato

A Linhares Filho

O mal vence o bem todos os dias.

O crime compensa.

Muitas coisas compensam.

Muitas coisas pairam no ar.

O mundo grita vontades diversas.

As mulheres almejam cavaleiros de armaduras.

A ingratidão persiste,cativa novos adeptos.

Surgem novos mitos,novas submissões.

Não acredito em muitas coisas.

Ontem ,minhas próprias mãos fizeram fogueiras

Queimaram todos os mitos.

Que outras bocas vos preguem as caduquices

Por vós eternizada.

Há uma estrada que persegue o sol.

Há uma luz que me conduz.

Preciso ir

Outros aguardam minha boca...

Revolto



Os homens amam e comem o pão

Que Deus ou o Diabo amassou.

Os homens vivem e morrem

Em cima da terra

Debaixo do céu

Os homens contemplam o infinito

Erguem as mãos

O tempo ágil e impaciente curva-os

Fazendo-os dormir no ventre da terra

O céu límpido e passivo

Fica a olhar sombras e jazigos.

Relicário Existencial



Há um feto boiando na lagoa

Há um feto agachado no ar

Há um feto na mesa do bar

Há um feto na solidão do lixo

Há um feto no IML

Há um feto no necrotério

Há um fétido feto

Há um fétido afeto...

Alusão à Drummond

Não tenho armas

Mas posso me revoltar

Tenho mãos

Farei os ventos moverem

Os moinhos e a história...

MEMÒRIA


Quando a indesejável das gentes

Vier me bucar

Que meu retrato fique pendurado

Na parede

É o tudo ou o pouco do resíduo

Que sempre fica

Para que a memória persista

Nas ações (cruéis) do tempo. (21/06/09)

Seu Cheiro

para joyce mesquita

Passaste por mim

E levaste meu ósculo

Numa das faces

Seu cheiro ficou na minha memória

Avolumando saudades.